Ancestralidade

Ouça no vento o lento soluço dos arbustos

É o sopro dos antepassados que se faz robusto

Os nossos mortos não partiram, na verdade

Estão na densa sombra da ancestralidade

Ecoando cedo ou tarde pelo universo

Um canto de identidade, um canto de endereço

Os mortos não estão sobre a terra

Estão nas árvores que se agitam sem guerra

Na madeira que geme, estão na água que flui

Na floresta que dorme e na cabana que rui

Na multidão que se apressa quando a paz interessa

Na valorização de quem realmente mereça

Ancestralidade

Na verdade

Tem a ver com fenomenologia e hereditariedade

Conhecimento tem magia, logo a trazemos na veia

Conhecimento sem sabedoria

É como água na areia.

Os mortos concorreram a nunca se omitirem

Nossos mortos não partiram

Nossos mortos não morreram

Estão no sorriso da criança

Estão no ventre da mulher

No que cada um escolher

Para despertar esperança

Oferenda não é makumba, é um gesto de gratidão

Para com os nossos ancestrais que levamos no coração

Oxum

Xangô

Oxalá

Obaluaiyê

Ogum

Iemanjá

Tradição, oralidade, heranças, memórias

Ancestralidade, conhecimento, histórias

Ancestralidade é o rosto da valorização

Uma proposta de reconhecimento da cultura e da religião

Os nossos mortos ainda seguem adiante

Nas plantas que perfumam a jornada do caminhante

A tradição oral reflete um valor moral

É uma escola com portas abertas ao poder ancestral

A matriz religiosa africana não menospreza a Bíblia

Nossos mortos não morreram, eles continuam em família.

Hebo Imoxi
Enviado por Hebo Imoxi em 03/07/2023
Código do texto: T7827992
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