Ancestralidade
Ouça no vento o lento soluço dos arbustos
É o sopro dos antepassados que se faz robusto
Os nossos mortos não partiram, na verdade
Estão na densa sombra da ancestralidade
Ecoando cedo ou tarde pelo universo
Um canto de identidade, um canto de endereço
Os mortos não estão sobre a terra
Estão nas árvores que se agitam sem guerra
Na madeira que geme, estão na água que flui
Na floresta que dorme e na cabana que rui
Na multidão que se apressa quando a paz interessa
Na valorização de quem realmente mereça
Ancestralidade
Na verdade
Tem a ver com fenomenologia e hereditariedade
Conhecimento tem magia, logo a trazemos na veia
Conhecimento sem sabedoria
É como água na areia.
Os mortos concorreram a nunca se omitirem
Nossos mortos não partiram
Nossos mortos não morreram
Estão no sorriso da criança
Estão no ventre da mulher
No que cada um escolher
Para despertar esperança
Oferenda não é makumba, é um gesto de gratidão
Para com os nossos ancestrais que levamos no coração
Oxum
Xangô
Oxalá
Obaluaiyê
Ogum
Iemanjá
Tradição, oralidade, heranças, memórias
Ancestralidade, conhecimento, histórias
Ancestralidade é o rosto da valorização
Uma proposta de reconhecimento da cultura e da religião
Os nossos mortos ainda seguem adiante
Nas plantas que perfumam a jornada do caminhante
A tradição oral reflete um valor moral
É uma escola com portas abertas ao poder ancestral
A matriz religiosa africana não menospreza a Bíblia
Nossos mortos não morreram, eles continuam em família.