FOBIA
FOBIA
Por que temo a morte,
Se sei,
Desde quando o sêmen, em doce prazer, se uniu ao
Óvulo,
Ela, um dia, viria e,
Com seu beijo frio, inevitável e apático,
Levaria do invólucro o EU profundo
Do meu ser?
Por que temo a morte,
Se tenho pressa
Se quero correr,
Voar nas asas do tempo,
Reduzir o tempo,
O brevíssimo tempo de reencontro?
Paradoxo?
Porque temo a morte
Se sei
Que ela é a amiga
Querida
Que complementa
A vida?
Por que temo a morte
Se sei
Que ela será
Sem dor e que
Em estágios lentos,
Desenvolverá
A metamorfose da reintegração no
Absoluto?
Por que temo a morte
Se sei,
Que quando o cordão de prata se romper,
Os entes queridos, que já foram,
Virão,
Em suave procissão,
Me receber?
Por que temo a morte
Se sei,
Que numa visão cinematográfica
Em cores,
Reviverei todos os meus dias e noites terrenos,
Segundo a segundo, e
Constatarei
Não fui mau,
Não fui bom,
Apenas um homem,
Barro,
Água e terra
Que cumpriu sua missão?
Por que temo a morte
Se sei
Que Astério, meu guia, feito de estrelas
Azuis,
Conduzirá meu EU em segurança?
Por que temo a morte
Se sei
Que não cruzarei o Aqueronte,
Nem terei Caronte por barqueiro.
Simplesmente atravessarei profundo e escuro túnel
Em espiral
E, embriagado de prazer, chegarei ao
Outro lado?
Por que temo a morte
Se sei
Que quando lá chegar verei
Pôneis coloridos,
Num campo de flores e relva coberto de arco-iris,
Milhões de borboletas,
Pássaros, esquilos, carneirinhos...
Montanha russa, realejo, cavalinhos...
Roda gigante...
Música nas cores?
Porque temo a morte
Se sei
Que meu EU (átman)
Estará – é seu destinho – na
LUZ?
Temo a morte,
Porque haverá separação.
(Poema encerrando o romance PEDALANDO, de Antonio Luiz Fontela)