NUM DIA DE CÃO

Eu vi a rosa desabrochar no campo,

Pétalas vermelhas em um tenro botão,

Eu vi vermelho no coração do tempo,

O sangue que jorra, não é a vida em vão.

Eu assisti a plateia eufórica,

Na antiga retórica da insatisfação,

Fugi da maldade na ansiedade,

Fui acovardado por ter comunhão.

Eu vi o apagar dos olhos do morto,

Seu corpo absorto e manietado,

Eram dentes na presa morta com gosto,

Uma artéria exposta e o couro escalvado.

Eu senti a dor daquele malogrado,

Ouvindo o seu clamor exagerado,

Sem defesa e abandonado,

Enfatizei a morte em seu cuidado.

Eu vi as pétalas da rosa caírem ao chão,

Secas-mortas, não mais crescerão,

A cor é vermelha, não é o sangue em vão.

Uma vida a presa, um algoz sem razão.

Eu travei uma guerra num dia de cão,

Abati um algoz, entoei uma canção,

Salvei uma presa, matei um leão,

A rosa é vermelha, não é o sangue em vão.

Erimar Lopes
Enviado por Erimar Lopes em 27/03/2023
Código do texto: T7750365
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