NUM DIA DE CÃO
Eu vi a rosa desabrochar no campo,
Pétalas vermelhas em um tenro botão,
Eu vi vermelho no coração do tempo,
O sangue que jorra, não é a vida em vão.
Eu assisti a plateia eufórica,
Na antiga retórica da insatisfação,
Fugi da maldade na ansiedade,
Fui acovardado por ter comunhão.
Eu vi o apagar dos olhos do morto,
Seu corpo absorto e manietado,
Eram dentes na presa morta com gosto,
Uma artéria exposta e o couro escalvado.
Eu senti a dor daquele malogrado,
Ouvindo o seu clamor exagerado,
Sem defesa e abandonado,
Enfatizei a morte em seu cuidado.
Eu vi as pétalas da rosa caírem ao chão,
Secas-mortas, não mais crescerão,
A cor é vermelha, não é o sangue em vão.
Uma vida a presa, um algoz sem razão.
Eu travei uma guerra num dia de cão,
Abati um algoz, entoei uma canção,
Salvei uma presa, matei um leão,
A rosa é vermelha, não é o sangue em vão.