Capitaloceno: seus cavaleiros
Capitaloceno I
Belém, 26 de março de 2023.
O primeiro cavaleiro,
Surgido do profundo buraco
Perfurada a caixa de Pandora
A profunda vontade de mover
De mover a gente contra a parede
Em estufas centenárias
É o primeiro cavaleiro
É o cavaleiro primeiro
Quem é o vingador involuntário?
Milhões de anos adormecido
Sim!
Meus pulmões gritaram
Um socorro borboleta
Mariposa resposta
Enquanto de cima da casa
As torrentes passando
Lar doce lar arrastando
Não!
Não à guerra
Um apelo da criança
Bombardeada criança
Quarto crescente
Liberdade oleosa
Oleoso discurso
Corre o carro do ano
Propaganda de anos na mente
Veio a tosse dos gêmeos da morte
A bandeira erguida no forte
Um negócio de uma caverna
Ocupando as vidas alheias
Dizem muito que tudo está certo
Recompensa com o crédito esperto
Sobe o mar num dia de céu encoberto
É o primeiro cavaleiro
É o cavaleiro primeiro
E sufoca não voluntário?
Milhões de anos adormecido
Capitaloceno II
Belém, 26 de março de 2023.
Ouro de tolo
da Humanidade
Bezerro dourado
Ícone da ganância
Cavaleiro
O segundo da nossa miséria
Pás para nossa falta de paz
São as máquinas
Picaretas
Caminhões
São buracos de nossa alma
Quem diria
Tua aliança
Em tudo isso?
E as placas que mexes na terra
São as vidas que exploraste
São memórias da antiga serra
Ancestralidade que um dia mataste
São postagens em nome da guerra
De um maníaco que idolatraste
Tua ponte
De um futuro
O crachá
Do lixo que juntaste
E o cavaleiro
Salta por suas rasas covas
Paz em que trabalham as pás
São sermões
O progresso
Legiões
Desenvolve a cidade
Quem saberia
Da tua participação
Em tudo isso?
E as batidas do martelo não soam
Porém os pregos te sacrificam agora
Nos empregos que destoam
Dos seus sonhos que tinhas outrora
Os rejeitos que sobraram caçoam
Ferros que tapam quando seu olho chora
O cavaleiro
Você e sua ferradura
Capitaloceno III
Belém, 26 de março de 2023.
Era uma vez,
Bosques com milhares de ninhos
Quem era a arara? Quem era eu?
Folhas molhadas,
Diversas nutriam a terra serenada
Quem era a raiz? Quem era eu?
Mas eis que veio um estrangeiro
Era o terceiro cavaleiro
Empurrava a todos e ameaçava:
- Fora daqui! Fora daqui!
Envenenou a nossa vida
Com sua Foice enraivecida
Esfomeou nosso caminho
Com sua Foice e pelourinho
Quando havia
Abelhas libertas na natureza
Quem era a orquídea? Quem era eu?
E lá uma castanha
Deixando-se abrir para saciar os dias
Quem era a cutia? Quem era eu?
E o cavaleiro aquele terceiro
No peito o emblema de Caim
Trazia fogo e seus comparsas
- Fora daqui! Fora daqui!
Aniquilou aquela mata
Com sua Foice e desmata
Secou o rio, carvão no chão
Com sua Foice e Grão
"O cavaleiro é pop"
"O cavaleiro é tech"
E no papel "ele é tudo...".
Escravizou aqueles bosques
Com sua Foice e Voz
E amarrou aqueles pássaros
Com sua Foice e nós
Capitaloceno IV
Belém, 26 de março de 2023.
Um por cento eu diria menos
são sentimentos que ele carrega
terá gente feliz
e passantes nas praças
Incontáveis são seus confortos
Como estrelas as feições de desprezo
Por mim e você
Serviçais e escravos
Quando eu dormi na rua
Eu sonhei com o entendimento
Quando eu passei fome
Eu soube quem me roubou o prato
Acumulador
É o último cavaleiro
E o seu prazer
É apagar as luzes todas
Acumulativa
É a sua cobiça
Abaixo da linha
Do senso de Humanidade
É pseudo homo
É um parahumano
É Homo dinheiro sapiens
Um estandarte no umbigo
O mérito de quem não merecia
seus feitos da desgraça nossa
a rolar as vistas
cegueira na matriz
Pra quê serve um trilhão de bens
Se ao final só restará ele?
Mas isso não importa
Você que não se esforçou tanto
Quando perdi a praia
Maloca foi soterrada
Quando faltou remédios
Percebi a real doença
Acumulador
Cavaleiro implacável
E sua missão
É ser o primeiro em tudo
Acumulativo
Mesmo que traga o pranto da filha
Acima da linha
Da maldade e da arrogância
É umbigo-humano
Não deseja ser gente
Money-man da côrte
Presente em nosso enterro
Quando eu li um livro
No meio da avenida lotada
Quando eu contei as vezes
Em que fui pisoteado
Acumuladores
Os cavaleiros da morte
O fim das espécies
O lucro das receitas
Acumulativos
Os argumentos que trago
De vencer a todos
Os cavaleiros da extinção
Não nos julgue Antropoceno
O que existe é Capitaloceno
Não nos acuse Antropoceno
O culpado é Capitaloceno