O que Hilário levou
A casa que Deus te empresta
Em que te abrigas do relento
O sol intenso a chuva o vento
A Natureza a fazer festa...
A roupa que te dá decência
Aquece a pele estanca o frio
No edredom denso e macio
Necessidades da existência.
Afinal o que me pertença
Senão a minha gratidão
Se o que uso é concessão
Vera alegria na alma imensa.
Que levarei (oh homem diga)
Ante a velhice verdadeira
Porvir que exibe a tua caveira
E dá tuas carnes p'ra formiga?!
As tuas órbitas - despidas
Da ambição dos olhos teus
O verme a ambos corroeu
No solo nu de margaridas.
Desfez teu cérebro potência
A CPU - total desmanche
Miolo orgânico o lanche
Matéria pútrida de excelência.
O rádio a ulna as cartilagens
O fêmur ao verme os ossos nus
De orgulho a lepra e mesmo pus
Que são no cálcio as embalagens.
Por mais que tétrico o evento
Que o teu cadáver patrocina
Acham micróbios - a proteína
No teu egoísmo em 100℅.
Em tua soberba tripudia
No miocárdio avariado
O ror de germes esfaimado
Que têm no vaso a serventia.
O tempo é fisco que te alcança
Qual Ministério milionário
Mas não o Espírito de Hilário
Que tem feliz boas lembranças.
Porque se deu a alma em flor
Nada reteve a si somente
Sem ilusão de ter na mente
Que amar previne o dissabor.
O tempo... o que não oxida...
Há algo que a traça não devora...
Segue consigo ao ir-se embora
Na Alma o BEM que fez na vida.