Entrelace de vidas
Menina cor da graúna
Em teus olhos pretos
De suave magia
Se esconde um griot
Repleto de histórias a contar.
Histórias não só tuas,
Mais de muitas outras mulheres
Que teu corpo vem representar.
Assim és tú:
Uma encruzilhada de narrativas,
Todas elas entrelaçadas,
Histórias que se fundem e se confundem;
De vozes femininas
Que não só vieram antes de você:
Essas mulheres vivem em você!
Doce rainha de Ébano,
Encruzilhada de vidas,
Tantas foram as senhoras
Que a fizeram chegar aqui.
És fruto de um povo escravizado,
Despatriado, encarcerado
E até hoje pelo racismo desrespeitado
Mas resiliente e lutador.
Tua nação não se deixou apagar,
Pelo sincretismo, conseguiu a religião preservar
Povo que apesar de passar
Por tanto horror,
O peito transborda em esperança e amor.
Povo que cada indivíduo
Carrega em si um coletivo:
"Eu sou porque nós somos"
Menina-mulher, sei que já entendeu.
Ao descobrir que
"quem se é" e "quem se foi"
São frutos de "quem vive" em você.
Doce céu em noite estrelada,
Traz em si beleza e mistério
De uma vida agora encontrada,
Certa de que é mais que mulher
És um templo sagrado
Onde a ancestralidade faz morada.