Saudades
Saudades...
Sinto saudades de um tempo que não sei onde...
Saudades de coisas que nunca tive,
De gente que não existe...
Uma saudade triste que coexiste
Num mundo atemporal que persiste.
Sinto saudades de tudo que não vi,
Do que não ouvi, não senti.
Saudades de algo que não vivi aqui,
Mas que vive em mim.
Sinto saudades de uma família que não é minha,
Que não conheço...
Mas, conhecia
Nalguma sequência da vida infinita,
Cheia ou vazia
De versos,
De rimas,
De poesias.
Saudades de um laço fraterno que confraterno, Sem com quem, sem porquê, externo. Saudades de um amor terno,
Inefável e eterno.
Saudades...
Saudades de parte de mim,
Saudades que não tem fim...
Saudades de meus pedaços,
Espalhados nos entrelaços
Do universo, do espaço,
De todo o tempo emaranhado
Neste contínuo, conectado.
Tão escondidos,
Tão bem guardados...
Bem quistos e bem amados.
Nunca mortos,
Nem nascidos,
Desconhecidos
Mas reconhecidos,
De tão parecidos que são,
Comigo!
Tenho saudades do que faço parte,
Uma parte de mim que é à parte.
Do meu íntimo ser, nesta arte
De viver...
E permanecer vivo,
Conectivo ao que habito e abrigo.
Tenho saudades de um tempo infinito,
Cheio de paz,
Cheio de estrelas,
Reluzido...
Tenho saudades de um mundo divino,
Do bem genuíno,
Do eu coletivo
Por este Deus sempre vivo,
Donde revivo
Incessantemente...
E assim,
Sobrevivo a dor e na benção,
Desta saudade imensa
Na minha alma suspensa,
Que me lembra e recompensa
Por saber quem sou,
Onde estou
E pra onde vou.
Por Lucilia Reale