UMA ORAÇÃO ENTRE OS DENTES

A tua mansa face de luz pura,

Em silêncio suportava os insultos,

Proferidos pela corja de infames vultos

Saídos de sinistra sepultura.

Ridicularizado sofreste horrores.

O suor caindo dos cabelos pendentes,

Presa tinhas uma oração entre os dentes

Implorando o afastamento das dores.

Abertos foram teus braços naquela hora,

Sentiste nas costelas os dentes caninos

Das lanças dos espíritos assassinos

Guiados pelo amigo d’outrora.

O céu, conturbado, perdeu a calmaria,

Mas para os teus amigos parecia solitário

Túmulo de sombras impressas em sudário

Preso a um mastro como estranha alegoria,

Tremulando no monte como um despojo

Simbólico que guardou a tua imagem,

O teu amor, a tua força e a tua coragem,

De olhar para a humanidade sem nojo.

11/02/04.