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Hoje fui dar uma volta
Com meu pai no Engenho Novo
Espairecer a minha mente
Que está presa como louco
Passei por caminhos gloriosos
A minha Umbanda estava lá
Notei a fila no portão
De carro passei e vi os irmãos
Que saudade de ir para a gira
Sábado é o dia
Dia de aula no Terreiro
Mas, eu não posso ir
Pois estou presa em lamentos
Lamentável!
Defumando estão por lá
Para as más energias tirar
Estou com medo de ver gente
Neste mundo indecente
O lixeiro na rua estava
Leva o lixo de minha solidão
Gentileza gera gentileza
Para um apertado coração
Que confusão!
Que situação!
Hoje também é dia de malhação
Vi homens malhando
Ciclistas se emocionando
Vi gente fazendo feira
E nem é sexta-feira
Sexta é dia de Oxalá
Sábado, de Oxum e Iemanjá
Defuma defumador
Tira de mim essa dor
Defuma a dor
Da saudade do congá
Das palmas e pontos a entoar
Eu queria poder estar presente
Na minha reza!
Ao voltar para casa
Passei pelo túnel do tempo
Os irmãos, já dentro do templo
Eu estava no carro
Espiei e olhei lá de dentro
Quanta dor!
Quanto sofrimento!
Defumador me defuma
Não quero esquecimento
Não quero esquecer
Dessa lembrança boa
Um dia voltar ao Terreiro
E não ficar à toa
Ajudar os irmãos
Que precisam de atenção
Não tenho essa condição
Amarrada estou!
Fumaça derradeira
Defuma esta moça
Traumas me trouxeram mágoas
E com a vida estou brigada
Muito obrigada,
Por me defumar
Meu pai acendeu o incenso
Agora, neste lar
Mas eu não consigo rezar
Estou em uma bola de neve
Cicatrizes do passado
Não têm me deixado nada leve
Feridas servem para cicatrizar
Mas, a minha não cicatrizou
Eu fumo e não sei defumar
Porque inalo a fumaça no ar
A saudade da Casa Santa
Dos chocalhos e atabaques
Fez meu coração bater forte
Não quero encontrar a morte
Só desejo viver bem
Comigo mesmo e mais alguém
Então, defumador
Tira de mim esse grande rancor.
Karol Pisaro - Sábado - 28/08/2021 às 12h30min.