Eu fui por ali

Eu fui por ali rever meu caminhos, reencontrar minhas faces, deixadas

porque teus passos se aceleram e não pedem licença para ser

nos encaminham sem olhar os detalhes ou mesmo os recantos

isto, fica por nossa conta dar conta do saber

e naquela pressa de ver os dias contados em passos indomáveis,

tudo estava escrito por teus dedos

um olhar que está em toda parte

um querer disforme de nossa vontade

um prazer que dói para contar do seu rosto

inteiro e comovente

quando dos lábios faz brotar ao que veio

e elas voltaram, aquelas perdidas que deixei calar

elas me impuseram o corte, a poda para seguirem brotando

elas voltaram e em seu retorno fizeram-se palavras

afinal, da semente nada se sabe

silenciadas permitem-se tocar pela palavra renascida em flor

é, eu fui por ali

para encaminhar rastros, rever a velha amiga "coragem"

e reconhecê-la em sua verdadeira face

deitar-me junto ao feno, alimento seco, árido e tão linear

permiti-me ao triturar da palha, ao atrito dos dentes a remoer

vi desalinhados os vãos e percebi: era tempo de poda

recortar os galhos, permitir à terra o que lhe cabe

e deixar que volte ao silêncio dos seus dias, agora sabedora da decomposição

e então, assim deixar à mãe e em seu colo, seus filhos

e deles ver renascer o que floresce sem o querer dos homens

é, eu fui por ali

beber mais um pouco da seiva que embriaga

para fazer-se límpido os riachos que de mim escorre

e lava, leva o mais que podem, das barreiras a impedir o fluxo

é, eu fui... e agora, retorno

em teus braços largos

que a tudo cabe e quando pensei ir,

ainda assim, lá estavas sem dizer

e quando digo "em retorno"

sei que nunca parti e na verdade sempre estive

neste que não pede espaço e nem exige tempo...

afinal, sempre é

por isso, num inquietante aquebrantar-me,

... acolho-me... integra-me!

Kátia de Souza - 01/08/2021