Não mais

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Não mais

Nascer...

Desprendimento maternal;

início da minha solidão.

Os médicos sorriam.

Minha mãe sorria.

Meu pai, ausente, também estava feliz.

O cosmos se expandia em mim.

Eu, entretanto, chorava.

Crescer...

Desenvolvimento carnal;

saga da minha solidão.

Os amigos sorriem.

A namorada tem seus momentos de sorriso.

Meus irmãos, presentes, igualmente felizes estão.

E a expansão sidérea não tem fim.

Eu, mesmo assim, ainda choro.

Ter...

Acanhamento moral;

tormento e desilusão.

Os políticos sorriem.

O meu algoz sorri.

A ‘corrupção’ não cabe em si – é sorriso pleno.

O universo quase explode em profusão.

Eu, mero assistente, sou pranto.

Ser...

Julgamento pessoal;

razão da eterna busca.

Os filósofos sorriram.

A mãe Sofia era sorriso.

Meu eu, desconhecido, é um incógnito vir a ser.

Meu universo se contrai dentro de mim.

Eu, entretanto, penso em chorar, apenas.

Morrer...

Desprendimento formal;

reinício da saudosa solidão.

Meus pais chorando.

A mulher, em pranto, chora.

Meu pai, presente, quer se ir também.

Meu microcosmo pulsa, distende e contrai.

Eu, entretanto, sorrio e não choro mais.

Juazeiro do Norte-CE, 23 de outubro de 2007.

23h38min

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