conflito desarmado da madrugada

Primeiro o ego inquietou-se

E refletiu um maxilar tenso e lábios enrijecidos.

O ser, que tanto sabia da própria anatomia, e pouco de sua alma

Questionou-se: "O que é isso que sinto?"

Raiva? Vaidade? Cobiça? Desejo vingança?

Envergonhado tentou disfarçar.

Ora, mas para quem mentiria? Se estava só, em silêncio, naquela sala?

Um gato enroscava-se entre suas pernas.

Não se pode mentir para os felinos.

Muito menos para si mesmo.

Constrangido, encarou sua própria maldade. 

Não parecia tão feia assim; quase lhe passou despercebida.

Sem jeito, assumiu-se ridículo e humano ao olhar a própria malvadeza.

Assim, se pôs de joelhos, humilhado. 

Puxou bastante ar para dentro de sua armadura.

E suspirou, em alívio, pois agora

só de ser um pouquinho humilde

lembrou-se de seu dom natural: amar incondicionalmente a si e aos outros.

Separou sua Luz de suas Sombras, bem atento

Como quem coleta cuidadosamente pequenas pedras 

Que se parecem muito com grãos de feijões.

Uma nova lâmpada foi acesa.

O pó foi retirado das prateleiras.

Uma das goteiras sarou.

E repousou em sua cama, tranquilo

Pois soube que vencera uma batalha contra si, naquele dia.

Escrito por Laura Valverde