À BEIRA DA SENDA
À BEIRA DA SENDA
Já não
te importas andar
mais um pouco,
se o teu cansaço lhe exige
que repouses,
sob a arvore frondosa
à beira da senda,
onde alguns poucos
transeuntes
continuam andando.
Não mais te importas
com o tempo
que passou
enquanto andavas,
e te envolvias como cúmplice
de tua antiga solidão;
se cada tempo
se define,
conforme o novo instante,
como agora,
em que o vivencias
em teu descanso solitário.
Há muito tempo
vives assim,
como um andarilho crônico,
esquecido da própria
vida;
apenas a receber o conforto
do tempo
que te acompanhas;
e ficas contigo
sem que percebas,
como um espectro
de fidedigna amizade;
e que
te esperas no tempo
contínuo da vida eterna.
Persistes o mais que podes,
no desempenho
de tua prova existencial.
E enquanto repousas
sob a árvore
à beira da senda, recostado
na base de teu tronco,
olhando
para um ponto qualquer,
sem que a vista
o defina com exatidão,
entre o breve instante
do fim da tarde
e o início da noite,
pegas no sono
pela exaustão de teu corpo.
Tua vida agora,
não é mais de solidão.
Teu perispírito logo
desprende-se de teu corpo,
envolto em sono profundo.
E tua alma, então,
ver-se rodeada por uma plêiade
de boas almas amigas,
que volitam contigo
numa alegria envolvente,
levando-te para alguma
colônia feliz por algumas horas.
Por fim,
enquanto não desencarnas
em definitivo
do corpo que habitas,
terás a companhia do tempo
em tua vida carnal;
sem vês, no entanto, que boas
amigas invisíveis
te acompanham, te confortam,
te fortalecem e te edificam,
tua vida andarilha
com aparência de solitária.
Só que,
quando dormes,
exausto de tanto andar,
num lugar qualquer; como alma
desdobrada,
sentes que o tempo continua
contigo; o que lhe
diferencia é que vês
o que não vias;
e não mais tens tua vida
de solidão.
Alegra-se por sentir-se em família,
na casa fraterna
da espiritualidade.
Contenta-se
por viver em harmonia afetiva
com teus irmãos espirituais.
Sentes
que teu desencarne
está próximo,
e tua prova quase vencida.
É hora, portanto,
a qualquer momento,
de retornar ao teu lar autêntico,
na eternidade:
que sempre lhe espera,
que nos espera sempre.
Eternamente.
Adilson Fontoura