Crepúsculo sangrento
Entardecer
Quente, o pomo dourado escorre no horizonte.
A luz enlaça e agarra ao cume de um monte;
No domo de cristal do firmamento avisto
um trono de safira onde não senta o Cristo.
O trono, de cor rosa-alaranjado, brilha,
o céu, com esses tons, parece que fervilha;
O cristal se dispersa em ondas azuladas
de amplitude letal, e cristas congeladas.
Noite
O vale da onda toca o solo amargamente,
faz emergir da terra uma ancestral serpente
cujo silvo desperta os animais malditos
e, no escuro do céu, pontos claros, aflitos;
Mas do oceano emerge, entre bolhas e espuma:
Vênus! Sob holofote intenso: rasga a bruma.
E do covil macabro a escuridão transborda,
vomitando a escória, a amaldiçoada horda.
Estrelas
São magníficas quando a cidade escurece
e brilham sutis quando o vaidoso sol nasce...
Estrelas: traficante, herege, puta... Vida!
Afogada no escuro e por Deus esquecida;
Banshees de grito mudo, olhos tristes, secos...
Ocultos sob a luz amarela dos becos...
Quando a Discórdia nasce, altiva, dum aborto,
é quando o vivo se curva e comunga com o morto.
Madrugada
Agora não há mais resquício do trono de safira, talvez você encontre os cacos por aí...