ETERNO RETORNO
No céu da minha vida tem passarinho
que abre estrada toda vez que voa,
derrama chuva que transborda rio
e, de noite, ele fica todo salpicado
de reluzentes estrelas que vêm brilhar,
só para brilhar, a troco de quase nada:
querem o seu lume inteirinho ofertar.
E tem nuvem muito branca
que, antes de chover,
fica brincando de ser carneirinho
ou árvore que o vento desfaz.
Um incessante desmantelar, tão natural,
que lembra a onda a desmanchar
castelo de areia em uma praia qualquer.
Prazenteiro informe de, que na vida,
nuvem nenhuma dura para sempre,
que todo castelo desmorona,
e o céu, que parece ser da gente,
também não permanece.
No dia seguinte têm nuvens tenras,
e os mesmos passarinhos voltam
para reinventar suas estradas.
Outras aves podem surgir,
vêm aproveitar este pedaço de céu.
Pode ter chuva ou não ter,
os rios podem secar ou transbordar.
E o vento demolidor sempre reaparece.
De noite as estrelas retornam
para de novo brilhar e iluminar a treva.
Quando bate vento muito forte,
daqueles que dissolvem estrelas e universos,
o milagre da eternidade divulga-se:
o brilho sempre retorna em novas estrelas.