O desabafo da alma

Se despir-me as roupas

E mostrares minhas vergonhas

Verás tu que de nada tenho a mais

Do que qualquer outra moça

Mas se despirdes meu coração

Verás que os rastros dos anos de amarguras

Estão estampados nas paredes

E não há nada que o faça desgrudar com facilidade

Não há nada em mim que seja bom

E olho para ti Jesus

E vejo que nada se faz sentido se estou caminhando para o lado oposto

Se meu coração teima em se distanciar cada vez mais

Se meus lábios pararam de chamar-te

E se minhas trevas tem me dominado

Mais do que deveria

Se o equilíbrio é falho

E a mim, substância informe outrora, luta em meio as guerras que me devastam

E se já não tenho mais ar para respirar em alívio

O que me resta? Se não há paz

Se os ventos tortuosos me trazem apatia

E se a mente volta outra vez aos seus velhos amores

E se a solidão a engole tão faminta

Quisera eu não ter nascido

Ao invés de envergonha-lo com o que sou

E se ainda luto contra o vento

Apesar de minha própria força não ser

Se existe algo a ser salvo

Peço te Jesus que me seja dado outra vez

Pois estou em constante declínio

E a jornada me engole em sua imensidão

De caminhos e trajetos automáticos

Que robotiza a minha razão

E se me aflinge pensar em meu estado

Cubro minhas feridas com um sorriso amargo

Distraio-os enquanto estou correndo os olhos pela minha imensa escuridão...