Meu coração aprende com o trabalho da árvore
O ofício que lhe ensinou o Sublime Mestre Artesão.
De dia capturo a luz e dela tiro meu combustível.
Como abelha, fabrico maciços blocos de energia,
Contribuinte que sou do inconcebível universo.
No tempo e no espaço essa função é que me guia.
Meu coração aprende com a imobilidade mineral,
Da pedra imóvel na sua lenta e segura transformação.
Em seu íntimo, o ígneo espírito do universo trabalha,
Presidindo o processo pelo qual a matéria bruta
Ganha mérito para se tornar matéria orgânica.
E nessa fórmula se consagra a gênese do universo.
Meu coração aprende com a efemeridade das mariposas,
E a quase eternalidade do majestoso rei carvalho.
Daquelas aprendo prudência, este me ensina paciência,
As pilastras onde a vida arma a rede do equilibrio.
E com a humildade suntuosa dos que cavalgam a luz
Meu coração amadurece e faz a travessia do espelho.
Meu coração discípulo aprende parindo a luz,
Num exercício simples de potência adquirida.
Nele, a natureza nua, diáfana, donzela mineral,
Observa, de longe, o pássaro chocar o ovo,
E vê de perto o buraco negro parindo uma estrela.
O segredo da existência se revela aos meus senitidos.
Meu coração aprende subindo degraus de evolução,
Desvendando a fórmula das coincidências cósmicas
E nelas acrescentando o valor da continuidade.
Meu coração conjuga o Verbo Fundamental
E a montanha discreta lhe revela seus mistérios.
Tudo que era sem nome adquire identidade.
Meu coração aprende espionando a Natureza,
Em seu momento de mais total intimidade.
Como um menino pelo buraco da fechadura,
Espia a própria Mãe se despindo para o Amor.
Meu coração se torna cúmplice da curiosidade,
O pecado fundamental que nos deu a humanidade.
Meu coração aprende observando a singularidade
Sem, no entanto, perder de vista o que é constante.
Do microcosmo adquire todas as propriedades,
E do macrocosmo vai desvendando a identidade.
Meu coração faz a síntese da eventualidade,
Onde o mundo, em cada evento, se repete a cada instante.
Meu coração aprende recusando a semelhança,
Sem, no entanto, descartar a existência da similaridade.
Ele sabe que no sincronismo das ações universais
Foi garantida a existência da pluralidade.
Meu coração aprende no silêncio das estrelas
A canção que elas modulam na eternidade.
Meu coração aprende bebendo o orvalho inocente,
Destilado na básica manhã do universo.
Experimenta a emoção cósmica de embarcar
Na sua primeira e essencial aventura mágica.
Meu coração, temperado em sal celeste,
Gaseifica, coagula, evapora-se em espírito.