DÁDIVA DO DESESPERO, SUCUMBIR E FLORIR
Enterrada seca era sem graça
No estio foi pisada, esquecida de si
Foi silenciada e isolara-se.
Isolamento é silêncio duro de ouvir.
Agora a cor florida sinaliza
: o resto vai de mal a pior.
Do subsolo Açucena sorri
Peito é quintal aberto
Albergue de girassóis
Andarilhos.
Agradeça quem puder da circunstância o incômodo,
em versos proclamam o louco, o filósofo e o santo
: do inferno não se ouve nenhum grito.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Mas
Eis que do conflito ergue-se de pronto bulbo hirto
Em cuja haste sinos rubros sorriem para os aflitos.
A dádiva do desespero é doce paradoxo
Na crosta ensurdecedora a força do eterno
Rompe lacres e racha o túmulo descrença
Guiando luz às tristes e ressequidas raízes
Sugadas desnutridas sob o peso da pedra
Miserável camisa de força, abraço lunático.
O mundo acaba, acabou no ano mil
Acabou em 2.000 - o mundo acaba
Todo noite com a lua entrelaçada
Por serpentes sob os pés de Maria.
Quem terá o tempo do Carvalho na semente?
Amarílis florindo concebe o fim desde o início.
Vigorosa Amarílis vitoriosa.
Em certo campo da semântica ela sou eu
Somos nós, eles e cada girassol andarilho.
No quintal, também pomar, jardINVENTO.
O resto continua universo em desencanto,
A única verdade é o túmulo rachado florir.
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Baltazar Gonçalves