DÁDIVA DO DESESPERO, SUCUMBIR E FLORIR

Enterrada seca era sem graça

No estio foi pisada, esquecida de si

Foi silenciada e isolara-se.

Isolamento é silêncio duro de ouvir.

Agora a cor florida sinaliza

: o resto vai de mal a pior.

Do subsolo Açucena sorri

Peito é quintal aberto

Albergue de girassóis

Andarilhos.

Agradeça quem puder da circunstância o incômodo,

em versos proclamam o louco, o filósofo e o santo

: do inferno não se ouve nenhum grito.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Mas

Eis que do conflito ergue-se de pronto bulbo hirto

Em cuja haste sinos rubros sorriem para os aflitos.

A dádiva do desespero é doce paradoxo

Na crosta ensurdecedora a força do eterno

Rompe lacres e racha o túmulo descrença

Guiando luz às tristes e ressequidas raízes

Sugadas desnutridas sob o peso da pedra

Miserável camisa de força, abraço lunático.

O mundo acaba, acabou no ano mil

Acabou em 2.000 - o mundo acaba

Todo noite com a lua entrelaçada

Por serpentes sob os pés de Maria.

Quem terá o tempo do Carvalho na semente?

Amarílis florindo concebe o fim desde o início.

Vigorosa Amarílis vitoriosa.

Em certo campo da semântica ela sou eu

Somos nós, eles e cada girassol andarilho.

No quintal, também pomar, jardINVENTO.

O resto continua universo em desencanto,

A única verdade é o túmulo rachado florir.

*

*

Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 20/07/2019
Reeditado em 21/07/2019
Código do texto: T6700546
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.