UMA VOZ ME CHAMA
UMA VOZ ME CHAMA
De súbito,
uma voz me chama:
pede que eu desça
de onde estou,
e ande pela planície
verdejante.
Não sei
quem me chama,
mas sinto-lhe o sussurro
em meu ouvido atento
a voz sutil,
que me traz o vento suave.
Apenas desço.
Intranquila, a minha alma
espia
pelos meus olhos carnais,
o descer do meu corpo
um pouco aflito,
desviando
de pedras, espinhos,
abismos com cheiro
de morte, onde há o umbral.
A minha alma espia.
O meu corpo desce.
Ela teme
que meu corpo escorregue
e sangre,
por roçar nos espinhos;
pondo a vida carnal
em perigo,
prestes a pender
no precipício
onde a morte, com riso
irônico, me espera.
Continuo descendo.
A minha alma espia.
Desço, desço, desço,
bem cauteloso,
sem me cortar nos espinhos;
atento a voz
que me pede num sussurro
pra eu descer;
sem temer
o percurso íngreme;
sem temer os obstáculos;
sem temer
a morte no abismo;
sem temer a incerteza
de alcance
da planície verdejante.
De súbito,
a voz
não me pede mais
pra eu descer.
A minha alma espia.
Interrompo os passos.
Fico indeciso
em prosseguir.
Olho para a frente,
e não mais vejo
nem pedras, nem espinhos;
tampouco,
os temidos abismos.
A minha alma espia.
Me alegro,
diante de uma visão
esplêndida.
Um ser luminoso
me chama. Reconheço
meu anjo protetor,
que me conduz
pela planície verdejante;
e me diz:
você escapou de morrer
e ir morar
um certo tempo no umbral;
só não foi,
porque cumpriu as provas
que prometeu,
antes de reencarnar;
porém, enquanto
o seu corpo não morre,
a sua alma passeia
comigo, em perispírito,
nessa planície paradisíaca.
Num ensaio
momentâneo
de sua vida espírita
na eternidade.
Escritor Adilson Fontoura