A piedade
Em um mundo de tantos horrores
Que não se olha, e nem eu, para o irmão no chão
Contorcido de fome e dissabores
Será que terei salvação?
Olhar para o céu e não lembrar do compromisso selado
Maltratando ou nem tratando como irmão,
Como posso querer chegar até a Deus, ou seu anjo alado
Se não consigo achar meu lado cristão?
Como posso querer clemência em meu final?
Se para mim, tanto fez como faz!
Se eu sempre agi assim com um desigual
Como querer benevolência ou querer paz ?
Como posso querer medida diferente?
Se não mudei meu jeito de ser, fui negligente!
E quando percebi o que fui em total arrependimento
Senti meus olhos fechados para o entendimento
Tome Senhor... meu espírito acabado e perdido...
Estava agonizando, já não sei nem em qual tormento
Pedi comiseração e amor, em um choro aflito
Foram muitos caminhos errados, faltava-me devotamento
Culpável por não ter amor ao próximo e não Te ajudar
Hoje choro minhas mazelas em uma cruz
Mãos para o alto imerecidamente no grande altar,
Clamando por minha total rendição a Jesus.
“ O sentimento mais próprio para vos fazer progredir, domando vosso egoísmo e vosso orgulho, o que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor ao próximo, é
a piedade! (...) Portanto, não sufoqueis jamais em vossos corações essa emoção celeste, não façais como esses egoístas endurecidos que se distanciam dos aflitos, porque a visão da sua miséria perturbaria por um instante sua alegre existência; temei permanecer indiferentes quando puderdes ser úteis. A tranquilidade comprada ao preço de uma indiferença culpável, é a tranquilidade do Mar Morto, que esconde no fundo de suas águas o lodo fétido e a corrupção.” (Michel, Bordéus, 1862 – ESE / A piedade).