CARTA PARA DEUS

Olá Pai, Senhor, Luz, Magnânima Onipotência!

(Espero que os termos estejam adequados)

Hoje humildemente pensei pela primeira vez, em escrever-lhe uma carta. Eu sei que antes mesmo de escrever, talvez o senhor já saiba do que vou dizer e certamente, já leu meus pensamentos de antemão, mas como me acho sempre imprevisível com as palavras e mutante com os pensamentos, que às vezes, brotam como se fossem veios d`agua que surge na areia porosa, do nada, quando me atrevo a andar no reino da inspiração, me atrevi a escrever assim mesmo, achando que talvez possa haver de sua parte, algum interesse na missiva.

Eu sei que todos que lhe dirigem a palavra, o fazem para pedir-lhe coisas como proteção, longa vida, saúde, sorte, paz, alguns poucos, para agradecer-lhe por graças alcançadas. mas no meu caso, não quero lhe pedir nada, a esta altura, já me sinto, perigosamente, meio saciado dos desejos. Se fosse pedir, pediria por saúde e prosperidade e tenho incluido as duas petições, como sabes, em minhas orações que o senhor já conhece.

Assim escrevo apenas para conversar, prosear como se dizia no interior de onde vim, como se eu e tu tivéssemos a intimidade de velhos amigos. Eu sei e tu sabes, que sou bem presunçoso, para um simples mortal.

Eu tenho me tocado, que as horas neste tempo do último quadrante da vida, andam voando, os dias parecem andar à galope, montados no lombo do vento, os meses passam rápidos como cavalos em disparada e os próprios anos andam com a mesma velocidade com que a lua cruza o céu. Tudo voa e eu, atualmente, mais pareço um louco tentando segurar as rédeas das horas. Gozado é que somente de uns tempos para cá, me dei conta disso, antes achava tudo muito lento. A vida para mim, consistia apenas em sonhar e buscar oportunidades.

Então movido por ambições e por um egoísmo que só crescia, corri pela vida afora, pois isso, sim, me parecia fazer sentido e concentrar a razão da existência.

Assim andando às pressas perdi muita coisa. Não vi os filhos crescerem, não curti as amizades, não joguei conversas fora com os amigos, ou seja, pouca atenção prestei nos detalhes íntimos da vida, que não amei como devia, por isso, creio, também tardei a amadurecer.

Quando me dei conta, veio então a vontade de escrever como uma forma de tentar recuperar o que foi perdido. Acho que tudo que escrevo está de alguma forma ligado a essa tentativa de resgatar essas coisas no tempo. Minha escrita também se lastreia na busca de respostas e na saudade e reminiscências da infância tão rica e tão colorida, onde eu não era só um menino, mas uma fábrica de sonhos!

Talvez o amado pai, esteja ocupado demais com este mundo doido, para ler este besteirol, não é para menos! Haja Deus, haja paciência e perdão para tantos males e maldades. Haja equação para tantas questões complicadas. Haja amor para tanto ódio.

No entanto, sei que sua leitura é dinâmica e uma passada d`olhos e pronto, já leste tudo. Por isso vou encompridando a conversa. Também não lhe pedirei perdão pelos meus malfeitos, pois tu já conheces meus erros e sabe que andei pagando uma parte deles, durante minha caminhada. Como sei também que o saldo ainda é negativo, mas sabe, como somos brasileiros, vamos levando, empurrando a coisa para frente, penhorando uma promessa aqui, outra acolá, valorizando sempre os feitos, muito mais que devíamos, pois sempre precisamos buscar estímulos para apaziguar nossa consciência e estamos sempre usando nossa autoindulgência para remissão das faltas cotidianas. Mesmo assim, mestre dos mestres, contamos, silenciosamente, com vosso perdão, acreditando nos limites extremos de sua bondade, sempre que proferimos nossas rezas.

Como já disse, não reclamarei de nada, mesmo que, como sabes, sempre estamos precisando de algo e quando o conseguimos, precisamos ainda mais, já que o poço dos desejos humanos é fundo, senão infinito.

Eu tenho tantas perguntas, mas não vem ao caso. Sei que muitas terei que descobrir por mim mesmo, pois isso faz parte do meu crescimento. Outras jamais atingirei, pois é parte dos mistérios da vida, que não nos cabe saber por ora, por isso, seguimos com nossas pernas trôpegas nessa jornada.

Melhor andar cego, mas andar, do que ver e não andar. Sei lá de onde tirei isso, mas o quero dizer é que o que não tem remédio, remediado está, entendeu? Bom que você entende tudo!

Olhe, vou terminar por hoje. Não disse nada de importante, näo é? Eu alertei que era só uma prosa de quem te preza e que com certeza sabe, que em sendo eu, apesar de tudo, um dos vossos filhos, também gozo da sua estima e consideração.

PS: Olha, não é um pedido tá. Mas se der, dá uma olhadinha nos nossos amigos e próximos, OK? Gosto muitos deles!

Um abraço e um beijo de boa noite!

Do seu filho meio estrambólico e incorrigivelmente ridículo!

Célio

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 30/05/2019
Reeditado em 08/09/2019
Código do texto: T6660337
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