O mendigo
Sou um mendigador.
E foda-se que esse verbo não exista!
Aqui, fico observando um transitar constante
De pernas com passos aparentemente certos
Sem, contudo, me convencerem de estarem na direção correta.
Enquanto observo confuso os saltos altos, rasteirinhas e sapatênis
Mendigo expressões, sensações e busco detalhes
Mendigo por todo o tipo de arte que a existência nos apresenta
Em cada vibração sonora
Em cada luz ou ausência sombria dela
ou em qualquer desenho cinético colorido ou preto e branco
Confesso que, invisível aqui, sou uma alma triste
Vendo além das dimensões possíveis...
Um número tão grande de possíveis verdades que me assusto
Com o quão vazio podem ser os corpos robotizados,
Ornando um cenário tão perfeito criado pelo caos.
Sentado nesses paralelepípedos quadriculados
Entre goles de Colombinas
Acho que chego até a escutar o "sound of the silence" daquela música sessentona,
Mas não sinto, com nenhum dos sentidos, o coração de nenhum humano próximo
Nem o calor ( nem o frio ) de nenhuma alma de fato viva
Por mais humanos e almas que existam num palmo de distância
desse monte de carne e ossos que chamaram de meu corpo.