casualidades
há de chegar o dia
em que aceitemos que a água
nos seja assim tão abundante
que o sol nos aqueça e alimente
que o inverno faça sanear e recolher
que o verão faça tudo renascer
que o ar nos permita respirar
e nos proteja do vento solar
que a rotação e a translação
sejam exatas para se viver
e que tudo assim tão concertado
não seja só obra vulgar
do capricho do acaso
talvez nesse mesmo dia
os sanhaços e canários do jardim
logrem compreender
que as frutas e o alpiste que lhes coloco
e que tanto rebuliço atiçam em meio à passarada
não sejam só uma feliz casualidade
Publicado no livro "coice de mula" (2018).