REIVINDICAÇÕES II
Ah! Senhor, quão míseros somos;
Verme, pó e cinza!
Tal como cães sem dono;
Negue, quem se atreve, diga!
Preferia até ser mudo,
Pois uma vez falei,
E mais de uma fui linguarudo;
Por isso fez-se o que se fez.
Ah! Se eu tivesse asas,
Tal como águia eu voaria;
Deixaria essa casa,
E no deserto pousaria.
Para passar essa noite
De angústia e de tristeza;
Quando eu preferiria a morte
Antes que essa magreza.
Mas queres que eu viva,
Por isso vivo estou;
Nisso tu te regozijas,
Não obstante a minha dor.
E porque a vida não é minha,
Tu ma deste, ela é Tua;
Tenho que cumprir minha sina,
Ainda que andarilho pela rua.
Tu me perguntaste,
E eu Te respondi;
Naquela noite, no monte:
Quem quer sofrer por mim?
Disse-te: Senhor, eu quero;
Pois tu sabes o que posso;
Por isso é que espero
De Ti o meu conforto.
Prova-me para que me aproves;
Na ira, lembra-te da misericórdia;
Com crisol me acrisoles;
Da prata tira a escória.
Inclina o meu coração
Ao temor do teu nome;
Sustenta-me com Tua mão;
Minha alma se consome.
Ah! Vigia dos homens,
Até quando me pesará a Tua mão?
Lembra de engrandecer o teu servo;
Fortalece o meu coração.
Abre a minha boca;
Opera o teu querer.
Cumpre a Tua promessa:
Enche-me de poder.
O que me prometeste,
Certamente se cumprirá!
Porque tu o disseste,
De pé, firme, está.
Seja eu somente o vaso,
Enche-o como te aprouver;
De vinho e de óleo,
Faz o que Te for mister.
Tansomente sê honrado
De abençoar o teu servo;
Com isso serei consolado,
E, assim, aqui encerro.