No terceiro dia: Templos

Belém, 16 de setembro de 2018.

Uma igreja abriu

ali na esquina

um homem ébrio

preferiu não entrar

de lá ouço vozes

de todas as crenças

de todas as marcas

de todos os coros

No pão que compro

não percebo "maná"

mas escuto "ó Pai"

em cada canto

por que não acredito

no que dizem eles?

por que a fé

nas entrelinhas

Voou a abelha

Por sobre a Hortênsia

Pra pousar na flor

do Maracujá

Nasceu belos frutos

E um velho mamoeiro

Disse que esta foi sua última vez

Talvez chova

no solo tão seco

talvez a chuva

erga o cheiro da terra

o ébrio abre a boca

pra molhar a garganta

agora limpa

agora limpo

levantou-se do chão

"A Seara é grande

mas poucos os ceifeiros"

aprendendo aos poucos

entendendo o enredo

não conheço a mim mesmo

muito menos quem me prega

não, não marque minha porta

ate eu ter certeza

A criança que caiu

naquela piscina

teve no amiguinho

aquele seu próximo

cuidou do seu susto

recebeu um afeto

e humanos foram

na raiz do que somos

O sol veio

por cima do rio

por cima dos males

fez-me sonhar

musicou a infância

e o riso da galera

"ei moçada

olha a lua"

para sempre dançar

Templo que busco

Tempo que procuro

talvez seja uma coisa só

Oração

Ó meu Senhor

não sei me ouves

tão pequeno sou

mas sinto amor

trombetas me falam

que estás por aí

Sendo Humanidade

ainda gostas de mim?

Vida, Vida

tão linda assim

Deusa do Universo

Te chamo Mulher

Boa Nova se fez Homem

que sofreu

que sorriu

que assim repartiu

Quão templo sou

pra reconstruir?