Feliz
Alimentas-te do que recebes sobre o chão
Conhecem-te o som de abastecer o vazio
Bebes água de várias fontes
Com pouco a perder
Lá vem o homem e te cria
Com a intenção de te comer
Para pagares o preço da prisão domiciliar
Não és obrigada a lavar pratos
Nem a lavrar prantos
Fazes filhos e aos teus netos dás de viver
Eles crescem e também voam
Podem até pagar contas
Mas não têm por que acumular dívidas
Eu queria ser tu
Será que vale a pena?
Quando a comichão na boca faz roçar o estômago
Sais do ninho, pias, sei lá
Cantas canções de liberdade
Engoles um monte de migalhas
Já te sentes satisfeita
Não precisas dum canudo
Para gerires tua própria vida
Não tens noção do que é sorrir
As tuas festas não se ouvem
Teus choros não consigo imaginar
Não sei se sonhas quando dormes
A fragilidade te persegue
Quem sabe te falte uma alma
E ainda assim
Certamente
És mais feliz do que eu.