Zelão
A garotinha, nos braços
De sua mãe ao portão,
Fazia um gesto pedindo:
“Quero o colo de Zelão.”
Um preto velho muito pobre
De cabelos desgrenhados,
Os dedos cheios de artrose,
A pele com tons manchados.
A criança não percebia
As dificuldades do velho;
Ninguém na família sabia
Dessa atração, o mistério!
A mãe da menina, preocupada,
Sempre evitava o encontro,
Mas quando Zelão chegava
Esta sorria de pronto.
Todo carinho, o aconchego
Que esse contato lhe trazia
Não era coisa desta vida -
Isso a mãe já pressentia.
Talvez pela relação
Com um tempo no passado
Dizia seu coração
Que fora alguém muito amado.
E agora a menina crescida
Deixa pra trás só lembrança
Marcando o melhor da vida
O seu tempo de criança.