AO SENHOR DOS AFLITOS
«Nos trilhos da Ascensão»
Pelos trilhos da memória
Outros trilhos se processam,
Numa continuada história,
Fazendo a existência inglória
Aos humanos que tropeçam.
Não há vidas milagrosas
Há apenas vidas comuns,
Mas há sensações dolorosas
E chagas sempre custosas
De sendas ruins para alguns.
Seja inverno, seja verão,
A vida é um monte a subir
E há pedras sim, pedras não,
Nesta perene Ascensão
Com risco e perigo de cair.
Todas as sendas humanas
Têm custos, têm gritos,
E de semanas a semanas
Há fraquezas soberanas
Com´ as do Senhor dos Aflitos.
Aos pés a Senhora das Dores,
Não é uma, mas são três
Senhoras do Monte, amores
Que são da vida penhores
Para alguns milagres, talvez.
Dura se faz a procissão
Num dolorido horizonte
Mas há promessas e oração,
Flores e terços na mão,
Olhando as Senhoras do Monte.
Pela encosta vai o andor
E o Cristo pregado na cruz,
Há cantos e rezas, suor,
Há esperança, fé e amor
E dentro d´ alma uma luz.
Cada romeiro só pede
O que traz na sua intenção
Pra si e pro mundo, intercede
Que acabe a fome e a sede
E para os pecados perdão.
No alto as Senhoras esperam,
Lapinha, do Monte e da Guia,
Pés descalços desesperam,
Mas os corações temperam
Piedade, canto e alegria.
Senhor dos Aflitos, eu creio
Que chegue a Vós quem é crente
E sonho que, por este meio,
Acabe de vez todo o receio
De permanecer penitente!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA