DESIDÉRIO
Na penumbra dos conceitos desconcertados deste
novo mundo louco, eu me escondo sob a sombra
da poesia enroscada e emaranhada nos passos do
desiderato violento humano.
Temo pelo destino que nos espera quando nossa
esfera tão minuciosamente criada através dos
milênios reage compulsivamente ao nosso cruel
descaso e desengano.
Ante o inferno de Dante que nos espera...
O sulco da terra chora o nosso ostracismo,
lamenta a nossa paralisia, condena a nossa
covardia, omissão dos éticos valores.
Choraremos por muitas eras nas heras sobrepostas
em nossos túmulos irrelevantes...
Pois que nós humanos estamos longe de sermos
o mimo da criação. Porque presunçosos pensamos
que somos os eleitos quando abandonamos nos leitos
e ao relento as verves dos nossos gérmens, pais e mães...
Não somos dignos deste mundo, nós é que somos
vãos ante as dores de nossos irmãos, ante a crença
fanática àqueles que abraçam os podres poderes.
Matamo-nos em sede e molhamos nossos dedos
em águas que não deveriam nos deixar cair em
tentação, mas não nos livram do mal que causamos.
Nestes andares do tempo erectus que traçamos,
na evolução humana que nos mostra levantando
vejo as mentes habilis decaindo. Meu Deus! ...
Constato o homem monstro inescrupuloso que
nos tornamos...
A arte bela que hoje ainda envolve nossas bestiais feras
seria o prenúncio da salvação desta escatológica era! ...