Transpessoal

Eu sou o fragmento de mica

rebrilhante ao pó do trator.

Mas Tu és

a Estrada.

Eu sou a erva rasteira,

Azedinha, na marginal do barro.

Mas Tu és o Sábio Ervateiro

e toda argila do mundo

Eu sou a flor do ipê roxo

Pisada, triturada, moída, pelo gado.

Mas, Tu,

Tu és o Touro.

Eu sou a criança dengosa

Em seu avental de escola.

Mas Tu és

O Mestre do Giz

Eu ou a cidade no vale,

Que se avista do alto do morro.

Mas Tu és

Mais alto que os astros.

Meu lugar: cor de ferrugem,

De goiaba, de imbuia

No arco Iris dos espíritos.

Mas tu és

O Espírito puro.

Criatura imperfeitíssima

De um Criador perfeitíssimo

Pelo menos na dobra do Teu braço

Carrega-me segura e espantadíssima,

Para além do berçário dos cometas,

Para além das implosões estelares

Dos poços de sucção da luz,

Dos arcanos do Teu magnetismo,

De distâncias insondáveis violadas,

Muito além dos zigurates cósmicos,

Dos universos paralelos egresso

De magmas invisíveis reclinados

Na voragem de quarks da luz negra

E dá-me o gozo, na dobra de Teu braço,

Do pasmo, da magia, da noite mirífica

De estar Contigo, em Ti,

O potro-sol, o dínamo, o sorvedouro,

O sedutor de Tuas criaturas!