MEMORIAL DOS MEUS AMORES ETERNOS
TADEU BAHIA - Autor
Às vésperas dos meus 60 anos
Um cidadão do mundo
Atitudes reflexas e tranquilas
Em lugar das antigas: elétricas
Com os meus nervos em pilhas
Hoje já não corro freneticamente
Nas pistas de Cooper da Vida
Ao contrário, caminho placidamente
Nas últimas horas das madrugadas
Quando os meus olhos verdes se encantam
Com os primeiros raios do sol
Que se espreguiçam, lentos,
Sobre os telhados orvalhados da cidade...
A madrugada adormece, plácida,
Enquanto a luz do dia cambaleia
Nas esquinas do mundo...
Os mendigos despertam cansados
Do seu sono entorpecido
Deitados sobre as notícias antigas dos jornais...
As ruas de Paris
Envoltas nas brumas celestiais
Que envolvem a Torre Eiffel
Com a sua camada de frio doce
E belo...
Sempre na vida estabelecemos
Um paralelo
Com as coisas... as pessoas...
Os lugares...
Hoje já não tenho mais pátria
O próprio mundo é a minha pátria
Nela tenho o meu canto
Onde sento sozinho
Em frente a uma xícara de café frio
E bebendo-o calidamente
Sinto nos lábios finos
O gosto de todas as coisas boas da terra.
Gosto do mar
E de ver os navios ao longe
Nas suas distâncias brancas
Acenando-nos saudades...
Um disco antigo do Nat King Cole
E a sua voz que evoca
A presença constante do Meu Pai,
Joaquim Cunha Menezes, junto de mim,
Silencioso... ensinando-me a ouvir
Músicas ardentes... serenas...
E Eternas!
O compasso ritmado
Dos passos das pessoas
Pelas ruas feéricas
E desalmadas das cidades...
Todas as cidades são iguais
- melancolicamente iguais –
Em quaisquer partes do mundo
Seja na Bahia ou em Genebra,
Porto Seguro ou Lisboa...
Mas na minha imaginação, somente
As ruas são absolutamente ruas
E mais nada...
Na minha cabeça
não existem países nem fronteiras
uma vez que os homens
- todos os homens –
São habitantes do planeta Terra
Aqui eles nascem... vivem...
E aqui mesmo se enterram!
Os nomes dos países, lugares,
As ruas desconexas e nervosas das cidades
Não passam de convenções
Nomenclaturas banais
Inseridas nas frias
E metódicas
estatísticas sociais...
São desnecessárias todas as denominações.
Todas as classificações
Bem como todos os rótulos,
Assim como as designações
Dos nomes próprios das pessoas
Ou lugares...
Qualquer pessoa pode ser quaisquer pessoas
E cada lugar pode ser quaisquer lugares...
Inexpressivas as Certidões de Nascimento,
Carteiras de Identidades, ou números de CPF,
Bem como as frias e cancerígenas
Declarações anuais de Imposto de Renda!
O homem cria o seu próprio câncer
Ao revolver-se com as suas preocupações
E atitudes metódicas e misteriosas,
Ao querer entender
As entranhas desconhecidas
E estranhas
Da sua inexorável e traiçoeira Alma...
A Alma é um labirinto,
O homem se perde no seu próprio labirinto
O homem não reconhece o seu instinto
E frequentemente desconhece
A si mesmo...
Há quem diga que O AMOR É TUDO
Todos os poetas dizem isso
E cantam o amor nas cordas do violão
Sob janelas poéticas e apaixonadas...
Perdi conta das vezes em que fiz isso.
Os seios das virgens adolescentes
Cheirando a leite quente, sem nata,
Mas a qual delas darei o meu coração?
Até hoje, sinceramente.
Não sei!
Passei por vários braços
Alguns foram carinhosos comigo,
Mesmo os que me traíram
E depois me abandonaram,
Até hoje guardo as lembranças
Amargas ou doces
Desses braços e abraços amigos,
Daqueles beijos furtivos – sob excitação –
Tocados por lábios quentes,
Nervosos e rápidos
Como se fosse o momento último
Da extrema-unção...
Ainda me lembro quando aos nove anos de idade
Recebi a extrema-unção...
Mas não consegui morrer
Como queriam a Ciência e os abnegados Médicos
Do Hospital Couto Maia,
Em Salvador, na Bahia,
Tanto que guardei a extrema-unção
Com todo o cuidado e alegria
Numa gaveta que hoje jaz perdida
E esquecida
Em quaisquer pontos da minh’Alma,
Talvez nem venha a precisar mais dela
SINTO-ME IMORTAL COMO OS LIVROS
... todos os livros...
Especialmente os livros de poemas
E outros que falam de coisas antigas
Escritas com letras pequenas,
Perdidas nas noites esquecidas do tempo...
Adoro a poetisa Mabel Velloso
Se pudesse algum dia casaria com ela,
Se eu ao menos tivesse os cabelos brancos
E lindos que a Mabel tem
Talvez tomasse coragem
De falar para namorar com ela...
MAS NÃO TENHO CABELOS BRANCOS!
Por isso também amo a Lala
A LALA VELLOSO,
E sempre criei coragem
De dizer isso para ela,
Mas nunca disse... as mulheres percebem!
Lala é igual a mim
Com os seus cabelos negros e misteriosos,
Um olhar silencioso que inspira poesias...
Sofremos juntos vários dissabores na vida
E sempre tivemos um com o outro
O respeito e o carinho singelo
Guardamos um para o outro
Os bons momentos das nossas vidas,
Os mais belos...
Vontades de sair sozinho pelas ruas
De mãos nos bolsos e feliz com a vida,
Embora ainda não realizasse tudo o que quero
Mas ainda tenho tempo... tenho muito tempo...
Sou igual à minha mãe, ANA BAHIA MENEZES,
Já passando tranquila dos seus 93 anos de idade,
A minha mãe é filha do DR. MANOEL BAHIA, Engenheiro e Rábula,
da antiga e eterna cidade de SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO!
A minha mãe nasceu com "ares de eternidade"
E que sempre pensa no amanhã
Igual à Da. CANOZINHA VELLOSO!
Carrego comigo todas as minhas lembranças,
Alegres ou tristes, não lhes faço diferença, amo todas elas...
Mas gosto sempre de recordar as mais doces...
São os bálsamos da minh’Alma!
As doces lembranças são como as noites
Envolvendo-nos com o carinho morno
E aconchegante das suas cobertas,
Repletas de estrelas!...
Gosto de passar as noites frias e sós
Na minha fazenda...
Quando nada e ninguém me aborrece
Fico ouvindo o coaxar dos sapos,
Ou olhando uma mariposa ou bicho noturno que esvoaça
Perfazendo uma harmonia encantada
Com a música das folhas das árvores antigas
Que cantam ao tempo saudosas cantigas
Varando a solidão da varanda silenciosa
Soprada melancolicamente pelos ventos noturnos
Quando sentado na cadeira branca,
Que também o Meu Pai sentava para rezar,
Releio velhos livros e faço anotações
Nunca depois observadas
Nas suas páginas amarelecidas
E usadas...
A minha fazenda
Com a sua varanda universal
Coberta por noites escuras e abissais,
Tais pélagos espirituais
que habitam os cosmos...
a minha Solidão
é o próprio livro da minha vida
onde faço anotações e rabiscos,
desenho rostos de pessoas
que nunca conheci
e tampouco as conhecerei,
desenho-as com os seus olhos perplexos
e distantes...
os meus sonhos
são a minha companhia constante
com eles traço os caminhos
que escrevem a minha própria História!
Algumas mulheres
que não são e nunca foram
as minhas mulheres,
ficam loucas da vida
quando faço uma nova amizade,
elas se sentem TRAÍDAS
como se eu fosse
propriedade delas...
nunca tive donos
nem a Ditadura de 1964 me domou,
sempre fui eu e as minhas circunstâncias.
Acho deselegante e imbecil
As mulheres domarem
E controlarem os seus homens;
Embora as mulheres se achem nossas donas
E acreditem piamente que somos propriedade delas!
Mas o paradoxo disso tudo
É que a Sueli Rocha Lopes é a minha atual esposa
E ela gosta muito de mim... a Sueli me ama tanto!!
Mas a Mabel Velloso gosta de mim
Também a Lala Velloso gosta de mim
A Vânia Bacelar sempre gostou de mim
A Vera Bacelar também sempre gostou de mim
A Gracinha Bacelar ainda gosta muito de mim,
Mas ainda tem a Dinha!... Esta é ESPECIAL, pois sempre gostei dela!!
ADORO GOSTAR DE TODAS ELAS!
Ter amigo é ter sempre ar para respirar
E se sentir vivo
... E ser feliz ...
Amizade é tudo - tudo
É como um mundo sem fronteiras
Um quintal sem cercas elétricas
A pura amizade é
UMA PORTA SEMPRE ABERTA!
Itabuna/BA em 17 de junho de 2009