A morada
Não, não consigo pensar
e penso e sonho pateticamente
com esse tático portão
que vai se abrindo francamente;
Atrás de mim vozes abafadas
vão com tardos pés raspando o chão;
folhas de rosmaninho, já pisadas,
bordam esse caminho que me leva dolente
ao tálamo da morte, plácida morada
que agrilhoar-me-há num grave silêncio;
Vou pensando em ti, anjo-amada,
e ao sentir tua fulgência, tua ternura,
me liberto, lépido, do soturno pesadelo.
Acordo deslumbrado pelo teu carinho, e zelo,
e me ofereces teu cândido regaço
para lançar-me além dessa loucura.
Então te abraço. Inefável calma.
Com mimoso e prateado laço
vou unir-me a ti, diva, nesse esplendor,
e porquanto consolado, durmo com dulçor
ao acalanto da tua nívea alma.