A morada

Não, não consigo pensar

e penso e sonho pateticamente

com esse tático portão

que vai se abrindo francamente;

Atrás de mim vozes abafadas

vão com tardos pés raspando o chão;

folhas de rosmaninho, já pisadas,

bordam esse caminho que me leva dolente

ao tálamo da morte, plácida morada

que agrilhoar-me-há num grave silêncio;

Vou pensando em ti, anjo-amada,

e ao sentir tua fulgência, tua ternura,

me liberto, lépido, do soturno pesadelo.

Acordo deslumbrado pelo teu carinho, e zelo,

e me ofereces teu cândido regaço

para lançar-me além dessa loucura.

Então te abraço. Inefável calma.

Com mimoso e prateado laço

vou unir-me a ti, diva, nesse esplendor,

e porquanto consolado, durmo com dulçor

ao acalanto da tua nívea alma.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 18/07/2007
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