Felicidade e Paz
Em bom verso, um poeta, aqui neste Recanto,
Falou em Paz e Felicidade e, no entanto,
Uma colega poetisa, na melhor das intenções,
Viu no fato uma redundância psicológica,
Considerando-os, em suas metafísicas acepções,
Como sinônimos. Então, eis um verso sem lógica?
Tendo merecido a honra de poeticamente exarar
Minha modesta opinião, peço vênia para comentar:
Na minha concepção, embora seja impossível
Haver Felicidade sem Paz, esta última, todavia,
Sendo pelas almas serenas perfeitamente exeqüível,
Pode sem a outra habitar-nos, e até mesmo com alegria!
A Paz é a humildade, o silêncio perpétuo do coração,
A harmonia interior dos sentidos, a sensação
Da liberdade do pássaro e do rio, a serena
Quietude de uma alma de escol, em cujo coração
Pode, portanto, manifestar-se sempre viva e plena,
Apesar dos aguilhões da dor e da desilusão!...
Felicidade é estado de espírito, é a sublime elevação
Dos sentimentos além, muito além, da ilusão
Da vida material. E, se, neste mundo, alguém diz
Que a tem, pode estar enganado, confundindo a pura
Felicidade com instantes em que deixa de ser infeliz,
Ou quando lhe visita uma passageira ventura!
Por isso é que, um sonho, na verdade,
Parece ser alcançar nesta vida a Felicidade.
Onde ela está? É quase incrível
Encontrá-la dentro de nós mesmos. Por nenhuma arte,
Entretanto, para nós é possível
Achá-la em outra parte!
Vejo lógica, pois, meu amigo, no seu bom poetar!
Mas, por que tanto divago, a formular
Sofismas, quando de mim posso falar?
Paz e Felicidade, a minha experiência as revive:
A Paz, me foi sempre um acabar e recomeçar,
Mas, Felicidade, essa eu nunca a tive!...
Como ser feliz, se sempre tive a alma a penar,
Presa em coisas e pessoas que um dia vou deixar?...
Mas a minha Paz, ia e vinha, e eu não me enganava:
Sempre acabava quando me visitava a solidão e a dor...
Mas essa cruz eu convertia em asas, e voava,
Libertado pela doce paz de um novo amor!...