SANDÁLIAS

Trançadas em couro com simples amarras,

Benditas são as marcas deixadas por tuas sandalias.

Palmilhando sempre a verdade e a expungir toda humana farsa,

Em comunhão se põe com teus sagrados pés,

A cada passo, osculando docemente o solo por onde passa.

Todos, tombados nas veredas à beira desse caminho,

Mesmo a exaltar imaculadas pegadas que foram por Ti ali deixadas,

Não ousam um só olhar, nesta arena terrena, acima delas lançar.

E de todos os recantos destas áridas terras,

Acorrem as gentes: aleijados, deficientes da carne e do espírito,

os mais doentes;

Também os pródigos, ricos e senhores de alma incrédula,

Pagãos absortos em vis quimeras,

Põem-se duvidosos à beira da trilha na Tua espera.

Mas se para as Tuas pegadas, nesse chão por séculos estampadas,

Bastou só um dia nesta existência terrena para a causar toda essa pobre comoção,

O que seria feito da miséria acaso todos voltassem olhos e corações

acima,

Mais do que às sandalias e a Teus pés,

Às verdades que sempre brotaram do Teu imaculado coração?

E com sentimento entre os mortais daquela época, unicamente,

talvez,

Foi aquela pobre e ávida alma carniceira,

Que na hora derradeira, a Tua face ousou divisar,

Para no Teu sagrado vaso com a lança penetrar,

Quando já imolado encontrava-se na madeira.

Desde então, hordas banhadas na dor, germen presente geração após

geração,

Se dobraram em vergonha daquela malquista consagração.

E assim, em Teu nome, impérios foram instituídos,

Homens e consciências na fogueira destruídos,

Templos e novas ordens erguidas, desembainhando outras tantas

vidas.

Por vezes, esquecidos na miséria humana e todo seu pranto,

Ensandecida se fez a busca pelos símbolos.

Do cálice ao sagrado manto, do ocidente ao oriente, por todos os

cantos.

Pobres vidas mundanas, adoradores de traças que a todos os

ícones consomem.

Buscando os valores da criação nas coisas que só são comuns aos

homens.

Tornem, então, vivendo o sentido e elevando ao coração o Teu santo

nome,

Ao encontro daquela velha e esquecida trilha, chama que não se

consome,

Voltando-se às marcas deixadas por tuas saudosas sandalias,

fitando, agora, nos olhos, o verdadeiro Deus, lembrando que um dia por aqui passou feito homem.

luis roberto moreno
Enviado por luis roberto moreno em 12/07/2007
Reeditado em 16/08/2007
Código do texto: T562242