Poema em três partes
O despertar do sono da morte em terras abissais
Quando levantei estava imundo
Com o corpo aberto e ferido
Num local fétido e profundo
Jogado como réu punido
Desperto do sono da morte
Ladeado de corpos cambaleantes
Deixado a própria sorte
Maldições e gritos ululantes
Rasgo minhas mortalhas
Minha pele seca e dilacerada
Cortes profundos de invisível navalha
Minha esperança jaz soterrada
Recolho-me no resquício de sanidade
Céu negro, penumbra viscosa
Sol rubro sem luminosidade
Será punição a uma alma belicosa?
O Despertar e a crisálida de ódio
Enclausurei-me numa redoma
Meus pensamentos e meus vícios
Minha ruína, meu carcoma
Meu tortuoso caminho ao precipício
Nesta crisálida amaldiçoei
Tornei-me réu, júri e juiz
Minha condenação lamentei
Ignorando minha alma pecatriz
Onde estive Deus nesta purgação?
O ódio jorrava a cada grito
Visco tomando meu coração
Que extasiado, cai aflito
E uma luz tão translúcida
Cega meus olhos momentaneamente
Afastei-me com imensa dúvida
A praguejar intensamente
O Real despertar
Vi-me tomado em braços amorosos
Embalado como numa cantiga
Senti afagos tão calorosos
E várias presenças amigas
Minha mortalha já não existia
As chagas de outrora cicatrizadas
Deitado num local que desconhecia
Minha mente estava reorganizada
Neste local de luz apaziguante
Celebra aos filhos que retornam ao lar
Reergue-os com amor vibrante
Somos rios em busca do mar
E lá, pude renascer nos braços do Pai
Entre milhões de irmãos como eu
Inundados pelo brilho que não se esvai
Pois a morte jamais aconteceu