LAMENTOS
Senhor, acaso não vês minha amargura?
E que eu sou homem, criatura?
Oh! Prova que não tem fim!
Que tempo determinaste para mim?
Faze-me saber, usa de misericórdia!
Que eu ei de fazer? Dá-me da tua glória.
Por que te alongas no dia mau?
Acaso rejeitas a minha oração?
Agrada-te me ver assim,
Seco como erva ceifada e capim?
Sem frutos qual árvore seca,
Esperando por tua promessa?
Sei que provas os corações,
E que ouves as orações.
Mas a espera é muito longa,
Essa espera me acabrunha.
Suaviza minha angústia,
Não rejeita a quem te busca.
Eu sou verme, pó e cinza,
E tu és Deus que me espias.
Quem há que interceda por mim?
Que compareça em juízo pelo Oli?
Só há um: o teu próprio Filho,
Aquele que socorre os aflitos.
Que do pó levanta os desvalidos,
Para fazer assentar com os príncipes;
Que levanta da lama o pobre,
E a quem de humildade se cobre.
Deste-me glória e me deste fama,
Mas minha coroa arrojaste cobrindo-a de lama.
Aqueles que me vêem zombam de mim,
Os homens escarnecem e riem.
A tua bondade dura para sempre;
O teu pacto eternamente.
Dá-me que possa perseverar,
E na Tua palavra esperar.
Pois até aos meus irmãos me tornei como estranho;
Atribuem-me loucura e dizem que estou insano.
Até aqueles que me davam por sábio
Agora dizem que nada valho.
Ministros teus dizem que fui enganado
Pelo pai da mentira: o diabo.
Blasfemam assim do teu Espírito,
E me causam desagravo como inimigo.
Mas esses pastores não me buscaram,
Antes a si mesmos se apascentaram;
Quiseram-me enquanto eu lhes servia;
Desprezaram-me quando eu nada mais valia.
Mas eu sou vaso nas tuas mãos;
E ao toque da trombeta, como Gideão,
A chama brilhará em mim;
E aqueles que me deres também farão assim.
Eu já fui quebrado para me refazeres;
Estou sendo edificado como tu queres.
É de barro o vaso que guarda o tesouro.
Se de pedra o coração, dá-me um coração novo.
Dá-me que possa te buscar
Até completamente te achar;
Obter teus dons preciosos,
E ser um vaso valoroso.
Toma-me por tua mão
Inclinando o meu coração;
Guia-me com os teus olhos
Dando-me o teu selo.
Se me desgarrei, busca o teu servo;
Pois és o meu Rei, e eu teu súdito;
Não me deixa, mas me consola,
Seja com o cajado, seja com a vara!