Canção das rosas e alecrins.

Trinta e três anos tinha eu

quando Jesus Cristo morreu.

Sem calvário, sem açoite,

apenas fechou os olhos uma noite

e desapareceu

- como homem e como Deus.

Estivera no quarto meu

a pedir-me desculpas

por transferir-me toda culpa

do derramamento do sangue Seu,

pois percebeu

que todo sacrifício, perseguição,

genocídio, escravidão

e ameaça de eterna tortura

foram responsabilidade só Sua, pura

falha de comunicação

entre criador e criatura.

E, por não me ter feito

como ele perfeito,

assim já não o era,

logo não podia ser deus,

Portanto, partiu.

Saiu e sumiu

para não voltar mais

e levou consigo Satanás

e todos os demônios e bruxas

e o inferno

e o pecado original.

Então, fiquei só. Mortal.

Só eu, minha moral

e as flores do meu quintal

e tudo mais que não é eterno

nem perfeito - nada é! E não faz mal.

Para contemplar a Rosa e o Alecrim

e tantas belezas ao fim destinadas,

só preciso olhar o jardim,

não é preciso procurar fadas.