A ESQUECIDA
“ ...porque a verdade anda tropeçando pelas ruas
e a equidade não pode entrar.” Isaias 59(14)
Eu ouvi nesta noite
Os cambiadores do templo
E o canto das ofertas e das propostas.
Vi também César sorrindo
Pois lhe era dado
O que lhe pertencia.
Eu ouvi vozes na pequena Jerusalém.
Uma grande confusão de vozes.
E senti os rios que dividem
A cidade.
E vi as águas turvas desses rios
Onde os peixes dormiam
Ou estavam mortos...
Ouvi também os gritos
Alucinantes no frenesi
Dos profetas de Baal.
E vi ovelhas entrando em
Currais escuros.
– Em cavernas de portas largas.
Senti então a solidão de Elias
Nos desertos...
E caminhei sozinho pelas ruas
Pensando na mulher da mocidade
-- A fé esquecida de um Povozinho antigo.
Pensei num homem nazareno,
Pobre e humilde,
Andando nas aldeias da Galiléia,
Curando enfermos,
Ressuscitando mortos, despertando o Amor...
– O Caminho e a Verdade ensinando
A doutrina da Vida...
Voltei a quase dois mil anos!...
Vi pescadores, homens simples,
Pescando outros homens
Para um reino de amor.
E caminhei só pelas ruas...
As vozes do leilão e dos
Pregadores se misturavam
E se confundiam.
Causavam até medo à noite
Que se escondia
Nos fundos dos quintais
Da pequena cidade
Dividida por tantos rios.
E senti a solidão
De uma fé calada,
Abandonada no silêncio dos tempos...
E o pregão aumentava...
E César sorria na escuridão do Templo.
E os profetas de Baal Gritavam nas trevas da noite...
SGV. (16/10/1994, uma noite de muita solidão espiritual)