Deferência a toda gente
O que sobrará de nós no vão das horas?
Disse sim à esmola
Disse sim a criança sem mama que chora
Acolheu o filho seu e o do outro
Esqueceu que não tinha casa
E apertou a maçaneta
Fez do seu lar a rua
Seu Universo, a luneta
O porta retrato quebrado em frangalhos
O passado de um ex-principado
O mercador sem mercado
Tinha sede de vento
Disparou kilometragem
Repercutiu na cidade
Vaticinou com propriedade
Argumentou necessidade
Convenceu o pároco a professar caridade
Deliciou-se na bondade
Segurou a lâmina do carrasco
Dos insetos e pragas sertanejas
Desatou o flagelante laço
Transbordou de vinho a taça alheia
Coração sozinho
Mas a amizade cheia
O criador e a criatura
Se reinventavam solenes
A marchinha morna cantava na altura
Ninguém jogara um vintém no poço
O cidadão mais educado era o mais moço
Onde habitava a ética de Aristóteles
A alma era a mesma coisa do corpo.
17 jul 2015
Vinicius Santana