Em busca de mim
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Ó Deus! Que sou senão errante menino incrustado num
[mundo perverso?
Quem sou, ó Deus, senão mísero incipiente que, por acaso,
[chora aqui neste verso?
Por que temo mostrar-me, revelar minha angústia;
se o mundo, assim como o fizemos, não vive a poesia?
Mostrar-me. Não, não quero!
Revelar minha angústia. Não, não posso!
Que dirão de mim aqueles que desvendarem meus segredos
[eternos?
Que da vida, minha vida, descobrirem os opróbrios?
Como posso mostrar-me, fugindo, se a minha vida está e
[vai indo?
Ao olhar-me no espelho,
minha imagem não me permite que a toque.
Eu – idiota! – fico a buscar os raios divergentes
[que se formam atrás do espelho:
doce e virtual ilusão a invadir-me, esmagando-me,
[por inteiro, o coração.
Se de mim não posso sequer tocar a imagem,
como lutar, ir de encontro aos concretos tiranos
que vivem, iludem e esbanjam as riquezas advindas
[do mal revelado?
Por que eu, ó Sociedade Torpe, – mísero incipiente –
[devo mostrar-lhes minha alma?
Se o mundo, assim como o fizemos, venera seus vilões,
[martirizando seus mais doces heróis?
Está tudo tão claro...
Providências!
Não. Não podem! Paciência.
Não, Deus! Não me vou mostrar.
Prefiro calar – silenciar minha voz,
após o desabafo.
Fortaleza-Ce, 28 de setembro de 1999.
13h40min
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Do meu livro 'Anversos de um versador'