Pai

Por trás das grades a visão é outra

Outrora livre, hoje em si mesmo se aprisiona

Cada vez que tenta a fuga, o concreto da cela na cabeça desmorona

Bate a cabeça, se descontrola, se cansa de tentar se libertar da realidade, então deita e sonha

Sonhou com o campo verde, sonhou com as flores, sonhou com o sol, sonhou com o mundo

Um mundo sem as dores de hoje, as dores de sempre, as dores que o levam pro fundo

Pro fundo do seu ser que há tempos esqueceu o que é crescer

Só se diminui, só se encolhe em si mesmo e aos poucos desiste de vencer

Papai, anos atrás, lhe dissera: “Você vai ser um homem e tanto!”

Ah, como dói decepcionar quem confiou, como dói não ser o reflexo de quem um dia se espelhou

Ah, pai... Perdão por ter causado seu pranto, perdão por não ser o que você um dia esperou

Lamentos baixos, palavras lentas

Frases se tornam murmúrios, letras desconexas, apenas

Mas Papai o ouviu, Papai sempre ouve

Papai o pegou no colo e como um bebê o fez adormecer

Passou a noite ao seu lado, e lá continuaria mesmo após o amanhecer.