OS VIVOS E O MORTO
Os vivos estão reunidos,
pesarosos, na sala da casa,
velando o morto em sua
inércia tumular. A vida
carnal extinta, para sempre,
se cala; mas a vida espiritual
continua, fluídica, a falar.
A carne morta não mais
sente dor, não mais se abala;
mas a alma viva é passível
ou não, ainda assim, de sentir
o seu penar. No velório,
o silêncio respeitoso, consterna,
pelo pesar que não consola.
Já dói a saudade por quem
se ausenta, mas que no porvir,
decerto, irá o reencontrar.
Os vivos, na sala da casa, não
estão vendo, mas o morto
(alma que não morreu), até
agora, ali faz-se bem presente.
Alguns estão em prantos,
e a alma desencarnada, ao invés
de ser confortada é quem
os conforta. Almas socorristas
que vieram auxiliar o desenlace,
envoltas numa serena comoção,
deixam prevalecer as boas
energias no ambiente. Em dado
momento, os vivos se tranquilizam;
substituem a tristeza pela alegria;
e, embora não a vejam, sentem
que a alma do morto caminha
feliz ao portal luminoso da eterna
espiritualidade. E o morto no ataúde,
parece sorrir, expressando
no semblante pálido, a vida feliz
de sua alma já desencarnada.