OS VIVOS E O MORTO

Os vivos estão reunidos,

pesarosos, na sala da casa,

velando o morto em sua

inércia tumular. A vida

carnal extinta, para sempre,

se cala; mas a vida espiritual

continua, fluídica, a falar.

A carne morta não mais

sente dor, não mais se abala;

mas a alma viva é passível

ou não, ainda assim, de sentir

o seu penar. No velório,

o silêncio respeitoso, consterna,

pelo pesar que não consola.

Já dói a saudade por quem

se ausenta, mas que no porvir,

decerto, irá o reencontrar.

Os vivos, na sala da casa, não

estão vendo, mas o morto

(alma que não morreu), até

agora, ali faz-se bem presente.

Alguns estão em prantos,

e a alma desencarnada, ao invés

de ser confortada é quem

os conforta. Almas socorristas

que vieram auxiliar o desenlace,

envoltas numa serena comoção,

deixam prevalecer as boas

energias no ambiente. Em dado

momento, os vivos se tranquilizam;

substituem a tristeza pela alegria;

e, embora não a vejam, sentem

que a alma do morto caminha

feliz ao portal luminoso da eterna

espiritualidade. E o morto no ataúde,

parece sorrir, expressando

no semblante pálido, a vida feliz

de sua alma já desencarnada.

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 27/09/2014
Reeditado em 03/10/2014
Código do texto: T4978266
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