O LAVRADOR
Depois de ultrapassar a barreira placentária, e o limite
que há entre o ventre e a luz das estrelas!
além de sair incólume do período em que não
poderia fazer muita coisa mais do que chorar e mamar
e dormir e sonhar... quando mal conseguia
formular uma imagem em minha retina!
atravessando a fase em que dependia do cuidado dos meus
pais, e contava com a ajuda da Providência... Eis-me aqui!
avançado neste mundo,
quase um velho
onde a matéria pesada e grosseira,
ao me envolver, me empurrou
para baixo e me fez rastejar...
Por isso, da terra e deste chão, no qual cultivo
com esmero, regando com lágrimas sentidas,
me ergo,
curvado,
com a humildade de um lavrador.
E de mãos calejadas
do trabalho rude com a enxada
e com a pele tostada pelo sol abrasador do sertão
desprovido de riquezas materiais
mas com a alma purificada de sucessivas
provas e atribulações
venho oferecer-te o meu sincero amor.