Horas Certas
Que bom saber,
Ter o Sol hora marcada,
Para nascer.
Que bom saber,
Ter eu hora marcada,
Para morrer.
Que bom saber,
Não ter o vento hora certa,
Para soprar.
Que bom saber,
Não ter o vento direcção certa,
A tomar.
Que bom saber,
A alvorada preceder o dia nascer,
Tão quente.
Que bom saber,
A noite preceder a minha alma padecer,
Tão demente.
Que bom não saber,
Nada de nada,
E vaguear na estrada.
Que bom não saber,
Onde nos vai levar,
Nem quando lá chegar.
Que bom não saber,
Haver alguém a acenar,
A vir-me esperar.
Que bom não saber,
O caminho da entrada,
Nem ter mapa de chegada.
Que bom não saber,
A rudeza da caminhada,
E de nunca ser lembrada.
Que bom não saber,
Nada de nada,
Só ver o dia nascer por nascer,
Só ver o anoitecer por anoitecer,
E o vento soprar por tudo e por nada.
Lx, 8-8-1999