A casa de Deus
Senhor, perdoa seu venho tão pouco
A essa casa que chamam de Sua,
E onde eu só vejo a sua imagem,
Pregado numa cruz.
É que eu não sinto a Sua presença,
Naquilo que não condiz com as palavras,
Que um dia disse Jesus.
Eu te sinto bem mais presente
Nas coisas simples da vida
E é lá que te procuro.
Te vejo na brisa fresca das manhãs,
Em cada gota de orvalho,
Que à noite cai devagar.
Te vejo nas águas mansas dos rios,
Nas pedras e nos cascalhos,
Que a corrente faz rolar.
Te sinto na natureza,
Na noite que vem serena,
No brilho tímido das estrelas,
Na pálida luz do luar.
Te encontro no coração das matas,
Te vejo na imensidão do mar;
Te ouço na voz das cascatas,
No vento que acaricia as folhas,
Das árvores desse seu altar.
Senhor, eu vejo suas pegadas,
Nas estradas cheias de vida,
Onde as flores do campo
Se esparramam coloridas.
Mas também te sinto triste,
Na dor que jaz escondida,
No olhar vazio da fome,
Na voz dessa gente sofrida.
Sei que a sua presença mais doce,
Está no sorriso da criança,
No colo da mãe que alimenta
Com o seio da esperança.
Sei que está em toda parte, Senhor,
E não apenas entre as paredes brancas,
Que o homem preenche com paramentos reluzentes
Tentando atrair com o brilho do metal,
A fé de outros homens.
Senhor, me perdoe por não seguir rituais
E me aceite na liberdade do mundo,
Onde eu sempre Te encontro,
Na forma serena da paz...