Padaria
Peço a palavra
preciso falar
Passo o verbo
engomo o colarinho
(a caráter para bendizer)
Melhor seria então, eu nu!
Enquanto engulo o pomo e a saliva
junto ao ar que respiro
sobe e desce, o que digo
Tento sempre, substantivos
palavras de matar fome
substanciais
palavras de massa de pão
de trigo
In-trigo, entrelaço dedos e língua
e falo
não calo
misturo-me à massa do pão
sendo o fermento
aumento...
Aumento, cresço, para repartir
não sou de mentir!
E vou contar a história dessa padaria:
Eu vi!
Surgiu saindo do forno
pão e bolo pra matar a fome do mundo
Tudo, tudo quentim
quitutes, quindins...
das mãos de padeiros querubins...
de massa virada de trigo e palavras consagradas
Pra gente morder
Pra gente comer
Pra engolir
Pra gente matar a fome
do que come as entranhas
Pra que a lenha, que é fogo no forno
não seja a chama, que chama a alma ao inferno
e aquele terno, que o colarinho, me travava a garganta
prefiro mesmo nessa fogueira
Prefiro mesmo estar nu
Pretendo, feixe e centelha
Profiro claramente as palavras
e bendigo!
Porque vivo de comer da massa mais rica
desse pão bendito
NOTA: período 2002-2008