Eis aqui um filho teu
Meu Deus! Quão assombrosa,
Admiravelmente impossivel e aterradora é a tua existência...
Mais assombrosa,
Aterradora e admiravelmente impossível
Ainda seria a tua inexistência.
Não preciso dos teus testamentos,
Das tuas leis, das discussões acadêmicas,
Dos teus sacrifícios, dos teus nomes,
Dos teus Cristos crucificados,
Dos teus castigos, das definições do que és
E das tuas redenções; para acreditar-te.
Só preciso do teu vento,
Das tuas estrelas, dos mundos que criaste
Das mulheres e suas barrigas
Lançando vidas ao mundo;
Das crianças nos playgrounds,
Dos abraços amigos, das flores,
Das revoadas sem explicação
Dos bandos de seres alados,
Do dia e da noite, das dicotomias,
Do eterno movimento dos astros,
Da energia que emana do amor,
Desse infinito sombrio que arrepia,
De toda a desgraça que foi para
A humanidade esquecer-te
E tentar, pela força da ciência,
Resolver os problemas sociais mais simples
E dar de cara com a guerra,
Com a política, com a religião,
Com os preconceitos, com os preceitos,
E com toda sorte de consequências que
Os bastardos enfrentam por falta de pai.
De tudo isto e muito mais
E, de nada disso ainda, eu precisaria
Para ser o teu fã incondicional.
Só quero um abraço teu,
Que sejas meu amigo,
Que me salves dessas incertezas;
Mesmo que no fim eu me perca
Para um canto escuro do teu universo
Impossivelmente admirável
E durma em paz sob tuas asas.