Joana

Cantiga que dizia sempre

(cantava a mãe de joana),

filha, ócio não alimenta;

que tem quem s'envenena

por menos de um grama

de coisa desmerecente

quando a fome avança.

Joana, mais espertinha,

ria tanto que se roía,

que cicatriz não tinha

e não conhecia farinha

mais doce que uma lambança.

E assim Joana vivia

voando qual beija-flor

que canta -(veja só!)-

e não dorme em pôr do sol

pro espanto até do Senhor.

Só espalha alegria,

moça que era esplendor.

Cutucou muita ferida

que decerto nem sabia,

já que se algo rugia

ela só se desfazia

pra nunca saber de dor.

Joana morreu em vida

e decerto isso não é lamento,

que ninguém escapa do tempo

quando esse toma tento

e lembra com tormento

que deve cumprir a lida

mais ingrata que se tem conhecimento.

Mas até ele, o maioral, fica triste,

pois sabe que, como cai folha no agreste,

a “moléstia” de quem vive, de quem preste,

dói mais pra gente que se compadece.

Ela não, nem se prende, sai com agradecimento.