Sentir
Sinto uma solitária gota de tristeza
se formando (lentamente) dentro de mim;
como se fosse a primeira gota de uma represa...
tão imensa que parece não ter fim!
Sinto que a alegria está muito calada,
constrangida por ser somente minha...
e que (nessa solidão de triste risada)
se entristece por se ver sorrir sozinha.
Sinto que o amor tem um olhar parado,
como se sonhasse com o amor que pode dar;
e que já não sonha mais em ser amado...
mas ama um sonho-acordado de amar.
Sinto que a paz está sonolenta...
e que já não sabe se é pacífica ou passiva;
e que, enquanto essa sonífera dúvida aumenta,
diminui a certeza de estar morta ou estar viva.
Sinto que a verdade perdeu a voz,
e que tenta se expressar por meros gestos...
meras tentativas em desatar complexos nós...
meras atitudes com efeitos tão modestos!
Sinto que é lento e que é pouco...
e que sabe... e pode... e deve ser mais...
ser mais que o suficiente...ser louco...
ser loucamente bom no que sente e faz.
Sinto que o tempo pede ser urgente,
porque se aproxima a natural separação;
que seleciona os frutos da semente...
o joio e o trigo nascidos no mesmo chão.
Sinto que ser feliz, é dar felicidade;
e pensar em si, é, simplesmente, se esquecer;
e que só se multiplica, o que se divide em equidade,
entre o que já não tem e o que já não pode ter.
Sinto que o horizonte me olha (com um sorriso),
apesar daquela gota de tristeza se formando;
e que (para evaporá-la de dentro de mim) é preciso
entrar esse Sol de Amor que já está retornando.
Sinto que Ele não vai desperdiçar Sua luz
com quem não for refleti-la, também;
porque, desta vez, não haverá uma cruz...
nem um bando de cegos crucificando ninguém.
Sinto que é preciso calar o pensamento;
pois, chegou o momento de saber ouvir...
o que só pode ser ouvido pelo sentimento;
em um coração que não tenha medo de sentir.
29-01-2013