Produto de um espanto

Paredes e folhas em branco,

Julgo ser tempo

De mudanças.

Paredes, a vós peço

Todo o silêncio do mundo

E que escuteis

Os meus dizeres.

As coisas ditas, paredes,

Serão menos doces,

Mas nunca ferirão

A vossa e a minha

Felicidade.

É apenas tempo de mundanças

E eu preciso de vós.

Folhas em branco, preparai

Vossas formas carnais

Para uma procelosa visita

De versos meus.

Versos menos doces e ardentes,

Porém nunca ferirão

A vossa e a minha

Existência.

Minhas folhas, vós sois

O meu paraíso.

Enquanto vós, paredes,

Sois as minhas confidentes

E eternamente amigas.

Leitores, leitores...

As paredes me dizem

Tudo o que eu quis

Um dia ouvir.

E as folhas são

Tudo o que um dia

Eu quis ser.

Não, leitores...

Não tem como eu não

Amá-las por inteiro.

Elas estão em todos os meus versos

E serão, a partir de hoje,

As minhas maiores musas.

Não, leitores...

Não sou louco -

Nem solitário.

Existe, em mim,

Todo o brilho do Sol;

Todo o sopro do Vento;

Toda a imensidão do mar...

Não, leitores...

Eu não seria louco

De esquecer todo o

Encanto existente

E viver, em desventura,

As coisas mais inexatas

E imprevisíveis.

Sim, leitores...

Cansei.

Eu busco agora

As coisas que se explicam -

De imprevisível

Basta eu.

Paredes e folhas em brancos,

Vejo um tempo

De mudanças.

Quero viver junto a vós

Aquelas coisas mais simples,

Pois elas me dão a certeza

De eterna presença.

Cansei, leitores.

E vou procurar

As portas mais simples.

Aqueles que menos me entendem

São os que mais me compreendem.

Pena que não são

Paredes e folhas em branco:

São seres humanos e,

Um dia,

Desaparecem.

E lembrança e presença

Nunca são a mesma coisa.

Aqui termino uma fase

Aqui começo uma fase,

Do mesmo modo:

Poeta.

09/01/2013

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 10/01/2013
Reeditado em 10/01/2013
Código do texto: T4076444
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